Por que Israel bombardeou Damasco e pressionou a população drusa apesar da "preocupação" dos EUA? Estes são os cenários esperados.

Ataques aéreos israelenses em Damasco, que atingiram o quartel-general do exército sírio na quarta-feira, deixaram pelo menos três mortos e 34 feridos , anunciou o Ministério da Saúde sírio.

A decisão do país hebraico ocorreu após o país ameaçar intensificar seus ataques contra as forças do governo se elas não se retirassem de Sweida, uma cidade predominantemente drusa no sul da Síria, onde mais de 300 pessoas morreram em vários dias de violência.

Confrontos eclodiram no domingo entre combatentes drusos e tribos beduínas sunitas após o sequestro de um comerciante de vegetais druso, o que desencadeou uma série de sequestros retaliatórios, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

As forças do governo sírio anunciaram sua intervenção na segunda-feira para conter a violência e foram enviadas na terça-feira para a cidade de Sweida, que até então estava sob controle de combatentes drusos.

O OSDH, testemunhas e grupos drusos acusaram as forças de segurança de inúmeros abusos, incluindo execuções sumárias de civis e saques. Segundo esta ONG , 300 pessoas morreram desde o início da violência, o que levou as forças governamentais a intervir. A maioria são combatentes de ambos os lados, assim como 40 civis drusos, 27 dos quais foram executados sumariamente pelas forças governamentais.

O secretário de Estado dos EUA , Marco Rubio, disse na quarta-feira que está "muito preocupado" com o bombardeio israelense na Síria e pediu o fim dos conflitos.

"Estamos muito preocupados. Queremos que os combates parem porque tivemos um cessar-fogo ontem à noite que foi quebrado novamente", disse Rubio durante uma reunião em Washington com o ministro das Relações Exteriores do Bahrein.

O Secretário de Estado dos EUA acrescentou que manteve conversas telefônicas com as partes envolvidas e que elas também estão "preocupadas". " Acreditamos que estamos no caminho para uma verdadeira redução da tensão ", declarou Rubio.

Estas são as chaves para a situação e o que pode acontecer.

Os drusos são uma minoria proeminente no Oriente Médio, cuja religião deriva do islamismo xiita . Eles estão presentes no Líbano, no sul da Síria e nas Colinas de Golã, na Síria, ocupadas por Israel.

A presidência síria prometeu investigar os incidentes e "punir todos aqueles" que cometem crimes contra os moradores de Sweida, um reduto druso (apesar de serem uma minoria na Síria), e há dias há relatos de ataques de homens armados com supostas ligações a Damasco.

Ativistas e moradores locais relataram saques, tratamento degradante e a profanação de uma igreja ortodoxa na vila de Surah al-Kabira, no sul do país. Além disso, tanto o Observatório Sírio para os Direitos Humanos quanto a rede ativista local AlSueida24 relataram que mais de 20 pessoas foram vítimas de execuções extrajudiciais na terça-feira, após a chegada de tropas do governo à capital provincial.

Como parte da escalada, o exército israelense não apenas bombardeou veículos pertencentes ao novo regime sírio nas proximidades de Sweida, mas também a capital, Damasco, onde atacou as proximidades do Ministério da Defesa e do Palácio Presidencial.

Israel, que ocupa e anexou a maior parte das Colinas de Golã na Síria — lar de uma população drusa significativa — reiterou nos últimos dias que não permitirá nenhuma presença militar no sul da Síria, perto da fronteira compartilhada.

Israel exerce pressão sobre os drusos por meio de uma combinação de controle econômico (água, terra), restrições burocráticas e iniciativas simbólicas de integração cultural , com o objetivo de transformar o grupo em um aliado interno leal.

Mas o que é de benefício estratégico para o estado provoca uma reação de rejeição e sentimentos de alienação dentro da comunidade drusa, e tem gerado uma tensão crescente com comunidades drusas mais intimamente ligadas à Síria.

A violência em Sweida ilustra os desafios enfrentados pelo governo interino de Ahmed al-Sharaa desde que ele e uma coalizão de grupos rebeldes sunitas derrubaram o presidente Bashar al-Assad em dezembro, em um país marcado por quase 14 anos de guerra civil.

O exército israelense cumpriu sua ameaça e realizou vários atentados com bombas em Damasco na quarta-feira, incluindo na entrada do quartel-general do exército sírio, no coração da capital, e anunciou que havia atacado um "alvo militar" na área do palácio presidencial.

O exército israelense também anunciou que estava reforçando sua presença militar na fronteira com a Síria, para onde havia realocado algumas de suas tropas posicionadas em Gaza, e disse ter identificado "dezenas de suspeitos" tentando cruzar a fronteira da Síria.

Dezenas de drusos cruzaram a fronteira em ambas as direções na quarta-feira, sob gás lacrimogêneo das forças israelenses, informou um correspondente da AFP.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pediu aos drusos israelenses que não cruzassem a fronteira.

Depois que o enviado dos Estados Unidos à Síria, Tom Barrack, pediu que "todas as partes" se retirassem e a União Europeia pediu "respeito" à soberania síria após os ataques israelenses, o governo Donald Trump, que prioriza a distensão e o diálogo como principais meios para resolver o conflito, anunciou, por meio do Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, um acordo com as partes para interromper o conflito.

"Entramos em contato com todas as partes envolvidas nos combates na Síria. Concordamos com medidas específicas que darão fim a esta situação preocupante e aterrorizante esta noite ", detalhou o Secretário de Estado dos EUA nas redes sociais.

Nesse contexto, os Estados Unidos pediram na quarta-feira ao governo sírio que deixasse a zona de conflito no sul da Síria para aliviar as tensões com Israel, que citou os confrontos como um ataque ao quartel-general do exército em Damasco.

"Instamos o governo sírio a retirar suas forças militares para permitir que todas as partes diminuam a tensão e encontrem um caminho a seguir", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, aos repórteres, sem especificar a área exata da retirada.

Anteriormente, um dos líderes religiosos drusos mais influentes, Hikmat al-Hejri, apelou a Trump, ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, "e a todos aqueles que têm influência no mundo". "Salvem Sweida", disse ele.

"Nosso povo está sendo exterminado e assassinado a sangue frio." Os principais líderes religiosos drusos têm posições divergentes, e Hejri se distanciou na terça-feira, pedindo aos combatentes da minoria que não deponham as armas.

O exército israelense disse estar preparado para "vários cenários, inclusive nos próximos dias" no sul da Síria, tendo mobilizado tropas das frentes de Gaza e do Líbano para a fronteira leste, confirmou um oficial das forças armadas.

O Exército israelense também confirmou que tropas do Comando Norte (responsável pela fronteira com o Líbano) foram desviadas para a fronteira com a Síria. "O Chefe do Estado-Maior ordenou o reforço da inteligência, da vigilância aérea e das tropas na fronteira", acrescentou o oficial.